Todos os anos, a publicação americana Advertising Age, faz a lista Criativity 50, que reconhece as 50 personalidades mais revolucionárias e influentes do mundo criativo em diferentes disciplinas. Quais foram os escolhidos no campo tecnológico em 2015? Watson, o sistema informático de inteligência Artificial desenvolvido pela IBM está entre eles. É certamente “o mais inteligente”, mas decidi deixar ele de lado para me concentrar nos cérebros humanos da lista. Acrescentei, também, Wallapop e CartoDB, dois projetos tecnológicos espanhóis que em 2015 que deram muito do que falar. Talvez seu exemplo nos inspire ao libertar nossa própria veia criativa.

Gerard Olivé, Agustín Gómez e Miguel Vicente – Fundadores de Wallapop

“Ei, o que você vai fazer com isso, se você vai não usar?” “Sobe, sobe” “E um dinheirinho no bolso logo cai”. Diz uma voz provocativa enquanto toca uma melodia cativante. É a campanha nova e potente da Wallapop, a startup tecnológica jovem e fresca que revolucionou os mercados de segunda mão.

Vender produtos novos ou usados entre particulares na Internet não é nenhuma novidade, mas fazê-lo a pessoas que estão ao seu redor aplicando uma camada de geolocalização e desde um smartphone, sim. Este é o nicho de mercado que em 2013 viram três empreendedores, Gerard Olivé, Agustin Gomez e Miguel Vicente (fundador da LetsBonus), e o tempo deu a razão para eles. Em 2015 o aplicativo da Wallapop, disponível para iOS e Android, explodiu. Mais de 20 milhões de usuários que comercializam com mais de 40 milhões de produtos, apesar de que a empresa não tenha um modelo de negócio definido. Em Wallapop, o preço de um produto é definido livremente pelos usuários, e o pagamento é normalmente realizado em mãos. Aqui você pode encontrar de tudo (DE TUDO) e, portanto, há meios que já se referem a ela como a plataforma de venda do absurdo. Alguns também usam o aplicativo para paquerar, filão que os responsáveis decidiram o aproveitar no mês de fevereiro do ano passado criando “um mercado de solteiros“.

Com a aquisição da startup americana Sell It, Wallapop deu um salto internacional há alguns meses atrás e se consolida como um dos grandes casos de sucesso do empreendedorismo espanhol.

Sergio Álvarez e Javier de la Torre – Fundadores de CartoDB

Querem mudar o mundo. Pelo menos ordená-lo a base de mapas. Este é o projeto ambicioso de Sergio Alvarez e Javier de la Torre, dois jovens que viram há alguns meses como CartoDB, fundada em 2007, recebia uma nova rodada de financiamento de 23 milhões de dólares liderada por AccelPartners, um dos fundos mais fortes de Silicon Valley e investidor inicial no Facebook, Spotify ou Dropbox. A ferramenta, baseada em código aberto e pioneira na análise e visualização de mapas geolocalizados, já tem 31 milhões de dólares de investimento, algo de que muito poucas startups espanholas podem se vangloriar.

Os dados, por si só, são inúteis. Mas com um software que permite classificar, analisar e exibir mapas facilmente, tornam-se fundamentais para a toma de decisão nas empresas. Aqui você pode ver exemplos de mapas feitos para clientes como a NASA, Google, Twitter, Unicef, Wall Street Journal ou o Conselho de Nova York. Em 2015, a CartoDB aumentou 250% o número de clientes, e 350% dos usuários.

Kayvon Beykpour e Joe Bernstein – Fundadores de Periscope

Eles não foram os únicos que tentaram. Nem os primeiros. Mas foram capazes de fazer a diferença. Quando Kayvon Beykpour e Joe Berstening estavam desenvolvendo Periscope em 2014, perceberam que se eles quisessem que sua plataforma de vídeo em streaming tivesse êxito, tiveram que superar a sensação de medo e tontura sentida pelo usuário para as transmissões ao vivo.

Periscópio devia ser uma plataforma muito fácil de usar. Apertar o botão em seu smartphone para transmitir e o mundo é testemunha do que você vê. E, acima de tudo, a chave devia estar no feedback imediato, ou seja, a possibilidade de que os destinatários possam curtir, em forma de corações, tocando diretamente na tela, ou comentar em tempo real o streaming que estão visualizando. Assim, o emissor pode responder, virar a direção da câmera ou finalizar o streaming. A transmissão não é limitada por tempo e, uma vez, finalizada, o vídeo se guarda por 24 horas para poder vê-lo mais tarde.

A fórmula foi um sucesso. Twitter comprou o aplicativo e foi lançado no mercado dia 16 de março de 2015 para iPhone e 26 de maio para Android. Em 4 meses, tinha 10 milhões de usuários. Meios de comunicação e os anunciantes abraçaram calorosamente a novidade. A Apple a situou em primeiro lugar na sua lista de melhores aplicativos do ano passado. Agora o Twitter acaba de anunciar que os usuários da rede de microblogging (que usam o sistema operacional IOS) já podem ver as emissões de Periscope ao vivo sem sair de sua timeline. Uma nova janela se abre para o mundo no seu telefone. Uma janela com formato vertical.

Shree Bose – Estudante, co-fundadora da Piper

Esta estudante do último ano na Harvard, especializada em biologia molecular e celular, foi notícia há cinco anos, quando ganhou o primeiro prêmio do projeto Google ScienceFair, que reconhece os próximos gênios científicos. Desde então, não deixou de pesquisar e emocionar o mundo com suas ideias inovadoras.

Se a universidade e suas pesquisas sobre, por exemplo, câncer de ovário, não foram suficientes, em 2015, esta jovem foi uma das artífices de Piper, um kit para que crianças -e não tão crianças- aprenderem eletrônica a partir do popular videogame Minecraft.

Piper consiste em uma caixa com tudo o necessário para criar circuitos e ver como estes interagem em uma tela com Minecraft. A ideia, que ensina enquanto se brinca, arrasou na plataforma de crowfounding Kickstarter, aumentando cinco vezes o objetivo inicial de US$ 50.000.

Para Bose, a criatividade é uma parte importante do processo científico. “É impossível ser bom em ciência sem ser criativo”, explica. “Precisamos pensar em formas inovadoras para construir algo novo ou usar o que já temos de uma forma diferente para impulsionar o progresso para a frente.”

Stewart Butterfield – CEO e co-fundador da Slack

É hora de dizer adeus ao e-mail em nossos locais de trabalho? Se provar Slack, provavelmente você decide que sim.

Slack surgiu por necessidade, quando StewardButterfield, também co-fundador da Flicker, procurou uma maneira eficiente de se comunicar com seus parceiros durante a criação de uma nova startup de videgoames. Talvez nascer neste ambiente de gaming, e não em um dominado por funcionários de terno e gravata, marcou o caráter da Slack, uma ferramenta que não tem nada a ver com a aparência cinzenta das outras concorrentes.

Slack é uma ferramenta poderosa de comunicação corporativa útil e fácil de usar que em pouco tempo tornou-se indispensável nos escritórios de grandes empresas internacionais. Tudo parte dos grupos de trabalho: se estamos diante de um novo projeto, em vez de enviar um e-mail para nossa equipe de trabalho criamos um grupo de trabalho no Slack e a partir daí começamos a compartilhar informação e arquivos de trabalho de uma forma rápida e ordenada. Você pode pensar que isso já era oferecido nos bate-papos ou canais de IRC, mas o valor acrescentado da Slack é sua integração com outras ferramentas e serviços para a empresa como Dropbox, Github, IFTTT, RSS, hangouts, etc. Além disso, o serviço tem seu app correspondente, sincronizado em tempo real, para que você possa continuar a interagir com sua equipe em qualquer lugar.

Rana el Kaliouby – Diretora de estratégia e ciência na Affectiva

Quando você está vendo uma propaganda na TV, seu rosto revela emoções. Um sorriso, uma careta de desgosto, uma carranca, olhos arregalados com a surpresa, um sinal de confusão… Affectiva, a tecnologia na qual trabalha há anos a pesquisadora Rana el Kaliouby tem o potencial para reconhecer e capturar essas respostas faciais e compará-las com centenas de milhares de pessoas, a fim de interpretar o que o cliente sente e pensa ao ver a propaganda. É a ferramenta perfeita para analisar com precisão o impacto que poderia ter sobre o público uma campanha de marketing antes do seu lançamento, algo que já começou a explorar clientes como Coca Cola.

Rana el Kaliuby diz que a captura e codificação de emoções se traduzirá em melhores experiências de usuário. Avançamos para um futuro em que os computadores podem reconhecer e reagir diante das emoções humanas. E não só os vendedores e os consumidores sairão ganhando, mas Affectiva trabalha para difundir sua tecnologia além do marketing. Imagine as possibilidades, por exemplo, no campo da educação, para informar aos professores de quando um aluno tem dificuldades de aprendizagem, ou para auxiliar no trabalho com crianças autistas.

Amber Gadsby, diretora de marketing digital na Domino’s

Amber Gadsby, diretora de Marketig Digital na Domino’s Pizza, argumenta que uma pessoa criativa é aquela capaz de responder à demanda dos usuários. Queremos pedir pizza e queremos fazê-lo de forma rápida e fácil. Assim, a empresa de fast food leva anos pesquisando para facilitar a tarefa de seus clientes. Primeiro foram os pedidos on-line através do aplicativo móvel. Então veio o momento de aproveitar os wereables, fazendo e seguindo os pedidos com um smartwatch. Você pode até mesmo pedir a sua pizza com uma smartTV. Mas a grande revolução veio alguns meses atrás, quando Domino’s anunciou que os twitteiros dos EUA poderiam pedir pizza a domicílio com a operação simples de enviar um tweet, incluindo o emoji -ícone- da pizza e citando a @DominosPizza.

AmberGadsby, sua equipe e a agência de CP+B, são os arquitetos deste serviço, que também inclui a opção de realizar pedidos com a hashtag #EasyOrder. Em qualquer um dos dois modos, os usuários devem se registrar no site da Domino’s, detalhar o pedido que deseja associar a este tipo de compra e associar sua conta do Twitter. Um serviço que foi amplamente reconhecido e muitos já esperamos por ele no resto do mundo.

Emmett Shear, CEO e co-fundador de Twitch

Twitch, a plataforma de vídeo on-line focada no mundo dos videogames já estava confortavelmente situada no topo, depois de ser comprada pela Amazon por cerca de um bilhão de dólares e registrar dados de 55 milhões de usuários ativos por mês. Mas, como explica Emmett Shear, CEO e co-fundador, em Twitch gostam de experimentar e descobrir novas maneiras de se conectar com os internautas. Por isso, em outubro 2015, expandiu seus territórios ao abrir TwitchCreative, um novo espaço aberto para os criadores de conteúdo artístico e tecnológico. Uma janela aberta em que qualquer pessoa pode ir para ver ou mostrar suas habilidades ao vivo: cozinhar, pintar, retocar fotografias, programar… Algo parecido aos tutoriais do YouTube, mas em streaming e com a capacidade de interagir ao vivo.

Twitch deu em cheio com sua aposta. Celebraram o lançamento transmitindo uma maratona de The Joy of Painting, apresentado pela lenda Bob Ross, que morreu em 1995. 5,6 milhões de espectadores assistiram a maratona de Ross pintando seus quadros e a comunidade criativa recebe cerca de 2 milhões de visitas por mês.

Evan Spegiel, CEO e co-fundador de Snapchat

Em 2013 Evan Spiegel poderia ter vendido a Snapchat ao Facebook por 3 bilhões de dólares. Escolheu não fazer isso, e agora a empresa vale pelo menos 4 vezes mais. O valor de Snapchat cresceu ao mesmo ritmo do produto.

O que começou como uma plataforma para as pessoas enviarem vídeos e fotos efêmeros, no ano passado tornou-se um verdadeiro meio de comunicação. Snapchat é a rede ideal se se quer chegar aos millenials – mais de 60% dos usuários, dos 100 milhões que usam o aplicativo diariamente, pertencem a esta geração e assim souberam ver os meios de comunicação, como CNN, que usam o Snapchat como uma tela mais para oferecer a este público jovem histórias frescas e originais feitas sob medida. Grandes marcas já elaboram suas campanhas publicitárias verticais para telas verticais e ligas como a NFL (A liga de futebol americano profissional nos Estados Unidos) assinou uma aliança com a rede social de mensagens para exibir seu conteúdo através do aplicativo nos EUA.