A válvula que passou da cerveja para a medicina (percorrendo os oceanos e o espaço)

Por , 25 de May de 2016 a las 19:00
A válvula que passou da cerveja para a medicina (percorrendo os oceanos e o espaço)
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A válvula que passou da cerveja para a medicina (percorrendo os oceanos e o espaço)

Por , 25 de May de 2016 a las 19:00

A válvula Lubeca foi inventada para resolver um problema com a pressão que deveria ter a cerveja ao ser armazenada e servida, mas transcendeu a muitos outros campos

A válvula Lubeca recebeu este nome pelo lugar onde foi inventada, assim como a sede da empresa que a patenteou, está na cidade alemã de Lübeck. Neste lugar do norte de Alemanha, centro turístico hoje em dia, e cujo nome aportuguesado é Lubeca, Johann Heinrich Dräger e seu filho, ambos especialistas no campo da mecânica, andavam obcecados em solucionar determinado problema que os cervejeiros, indústria de grande importância no país bávaro, tinham na hora de armazenar e servir o seu produto.

Em 1889, quando não se tinham cumprido nem 20 anos da proclamação do Império alemão depois de um processo de unificação salpicado de guerras, era um tempo de paz, propício para os negócios e para o progresso científico. Naquele ano, Johann Heinrich Dräger e seu filho Bernhard patentaram um sistema de redução da pressão que o setor cervejeiro adotaria rapidamente.

Tratava-se da válvula Lubeca, patenteada nesse ano, o mesmo em que Johann Heinrich e seu sócio, Carl Adolf Gerling, fundaram a empresa que posteriormente ficaria com o sobrenome do primeiro, Dräger. Naquela época, os barris de cerveja já podiam ser dotados de dióxido de carbono comprimido à alta pressão, mas havia um problema: retirar o gás de maneira controlada. O fluxo deste e, portanto, o da cerveja era incontrolável. As válvulas que eram utilizadas na época falhavam e necessitavam consertos constantes. A invenção da família Dräger permite pela primeira vez controlar de maneira precisa a quantidade de dióxido de carbono de um barril à alta pressão.

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A empresa abriu inclusive uma fábrica para produzir sua invenção e abastecer à indústria cervejeira. Mas a história da válvula não parou por aí. Dräger, começa a aplicar o mesmo princípio de redução da pressão, que permitia controlar a pressão e o fluxo de um gás, em outros campos. O primeiro deles é a medicina. Já em 1902, se utiliza o método para criar equipamentos de anestesia em parceria com o professor Otto Roth. Destas máquinas Roth-Dräger, na seguinte década são vendidas 1.500 unidades no mundo todo.

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Desta forma foram criados sistemas de purificação de ar para os primeiros submarinos no início do século XX. Também foi aplicado o mesmo princípio para criar equipamentos de respiração que serviram para trabalhar no subsolo, em um momento onde a mineração tinha grandes riscos, ou para o mergulho.

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Em 1931, a válvula Lubeca é co-protagonista de outro marco. Um aparelho respiratório de oxigênio líquido, fabricado com base no mesmo princípio acompanha ao explorador suíço Auguste Piccard (avô, por sinal, de Bertrand Piccard, um dos aventureiros que deu a volta ao mundo, no avião Solar Impulse 2) em seu recorde de ascensão em balão, de 15.781 metros. A invenção ainda chegará mais longe, quando for utilizada na missão D1 do Spacelab, em 1985, para a filtragem de gás de alta precisão.

Sem tirar os pés da Terra, o princípio da válvula Lubeca, também chegou alto. Concretamente ao ponto mais alto que pode ser alcançado sem sair voando. Os equipamentos de respiração autônomos que levavam Edmund Hilary e Tenzing Norgay quando coroaram o Everest em 1953, levavam a marca Dräger. A mais de 8.000 metros o oxigênio se torna escasso, tanto que, se não se utiliza oxigênio engarrafado o corpo vai sufocando pouco a pouco. Este sistema artificial, foi crucial na primeira subida e nas muitas outras que aconteceram depois. A primeira subida sem oxigênio engarrafado não chegaria até 1978, com o italiano Reinhol Messner e o austríaco Peter Habeler.

Atualmente, o princípio da redução da pressão é utilizada em muitos setores. Hospitais e laboratórios o utilizam para abastecer-se de gás comprimido, que serve para sistemas de respiração artificial e de ventilação.

Imagens: Twang Photography e Dräger

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