Tesla e os carros elétricos: progressos, desafios e problemas

Por , 22 de April de 2016 a las 19:00
Tesla e os carros elétricos: progressos, desafios e problemas
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Tesla e os carros elétricos: progressos, desafios e problemas

Por , 22 de April de 2016 a las 19:00

O impacto de Tesla na mobilidade elétrica está sendo grande. A apresentação de seu modelo de gama média, Model 3, é só o último de seus avanços, que estão arrastando toda a indústria automotiva.

A indústria automotiva está caminhando na direção dos carros elétricos e, nisto, Tesla tem muito a dizer. Apesar de ser um fabricante voltado, até agora, para um público reduzido, como é o interessado na gama alta, a empresa de Elon Musk deu um empurrão para que os gigantes de Detroit ou as grandes marcas europeias dediquem maiores recursos à mobilidade elétrica. A tendência já foi esboçada, mas isto não quer dizer que o novo método de propulsão tenha tudo pronto.

O Nissan Leaf, o carro elétrico mais vendido até a data, foi lançado em 2010, com um preço que se encaixa na classe média e uma autonomia de 117 km, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). Naquele momento, era estranho encontrar nas ruas um ponto carga elétrico. A meados de 2012, Tesla lançou seu Model S no mercado, com um preço claramente indicado para o consumidor abastado e com uma autonomia nunca antes vista em um carro comercial de seu tipo (457 km de acordo com a EPA).

Um ano depois, a meados de 2013, não era difícil encontrar-se com um Tesla na zona do Vale do Silício, onde vivem e trabalham muitos clientes potenciais do Model S, com bons salários, amantes da tecnologia e da sofisticação que promete Tesla como marca, e também não era raro ver pontos de carga em algumas sedes de empresas.

No mercado dos E.U.A., em 2015, o Model S superou em vendas ao resto de veículos qualificados como ‘de luxo’ (de acordo com a informação da própria Tesla). Mas seu maior sucesso talvez seja a instalação de pontos de carga de carros elétricos, começando pela Califórnia e seguindo com outros lugares dos Estados Unidos, para depois passar a outros países. Tesla popularizou este modelo, onde é o fabricante de carros elétricos que instala e gerencia os pontos de carga, ao em vez de deixar que o façam terceiros (com certeza muito mais preguiçosos), levando a outras empresas, como BMW, a fazer o mesmo.

A ideia parte do princípio de que são os fabricantes de carros elétricos as empresas mais interessadas economicamente em que haja pontos de carga, pois rentabilizar uma estação deste tipo hoje em dia é muito mais lento e menos lucrativo do que fazê-lo com um posto de gasolina. Por quê alguem iria investir em pontos de carga elétricos? Tesla e outros fabricantes, sim, mas para vender carros.

Em abril de 2016, Tesla deu um passo a mais em sua corrida para regularizar os carros elétricos. Apresentou seu Model 3, que pretende recolher todo o sucesso da marca Tesla e do Model S para levá-lo à gama média. Custará 35.000 dólares, terá uma autonomia de 350 quilômetros e tem previsão para sair em 2017. Não será o primeiro de seu estilo. General Motors lançará as primeiras unidades de seu Chevy Bolt, com características e preços similares, no final deste ano nos Estados Unidos. Mas as expectativas que despertaram ambos modelos não são comparáveis.

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Após ver a luz, o Model 3 já tinha em sua primeira semana 325.000 reservas (uma parte delas tinham sido solicitadas inclusive antes da apresentação do modelo). Não são carros vendidos, pois as reservas consistem em um depósito de 1.000 dólares reembolsáveis, mas dão uma ideia do sucesso que Tesla tem como marca. Na Rede sobram as comparações com Apple e iPhone. É que o fabricante está ganhando adeptos que se assemelham mais a fãs que a clientes.

Talvez não seja o fabricante mais inovador, mas sua estratégia para atacar o mercado funciona para atrair o público e está arrastando a outros fabricantes que, com o Model 3, se vêem “obrigados” a apostar por um carro elétrico de gama média e com boa performance ou esperar: duas decisões e dois riscos diferentes.

Desafios e problemas dos carros elétricos

Tesla tem uma série de desafios por diante, tanto internos como gerais aos que se enfrenta toda a nova indústria dos carros elétricos. Os internos têm a ver com suas finanças e seu rendimento comercial. É que a empresa continua perdendo dinheiro e sendo financiada com dívida e a venda de ações. No quarto trimestre de 2015, teve 320 milhões de dólares de perdas, um aumento substancial comparado a anteriores períodos. De acordo com Musk, devido à criação de novos modelos. Também acrescentou que prevê ser rentável até o final deste ano.

De qualquer maneira, é uma situação delicada e é impossível saber quando se esgotará a paciência dos investidores. Uma das esperanças para levantar o vôo econômico, é a venda massiva do Model 3, mas para isto terá que chegar a tempo (a empresa é conhecida por seus atrasos nas datas de lançamento) e transformar em unidades vendidas a expectativa gerada.

Os problemas dos carros elétricos, em geral, podem ser resumidos em um: a necessidade de investimento. É necessário muito dinheiro para instalar pontos de carga e alcançar uma rede extensa e continua de estações. E mais investimento é necessário, para colocar os chamados ‘supercarregadores’, que reduzem o tempo de carga consideravelmente (em 30 minutos dão para quase 300 quilômetros de autonomia, para o que um carregador normal necessitaria várias horas).

Se chegarmos ao estágio em que os carros elétricos comecem a ser produzidos em grande escala haverá outro problema, como são os congestionamentos nos pontos de carga e os supercarregadores. No ano passado Tesla já enviou uma carta a seus clientes, solicitando que não saturassem os ‘supercarregadores’. É que, se um motorista se depara com duas pessoas na frente em um posto de gasolina, serão apenas alguns minutos de espera; mas, em uma estação de carga, poderiam ser horas.

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Este é um dos desafios, que tem pela frente a indústria do carro elétrico e tem a ver com mudar os hábitos das pessoas. Acabou isto de chegar no posto de gasolina, encher o tanque e ir embora em dois minutos. Os pontos de carga não funcionam assim e é difícil que os motoristas renunciem a um hábito tão cômodo como é encher o depósito em dois minutos e mudem para uma espera de meia ou várias horas. É verdade que, em parte, os carros elétricos são feitos para que sejam carregados nas casas, à noite. A web de Tesla inclui uma calculadora de quanto custaria encher a bateria, dependendo de sua potência contratada e sua tarifa. O problema aqui é que os carros elétricos foram planejados principalmente para a mobilidade urbana e nas cidades muita gente não estaciona em uma garagem onde podem ser instaladas tomadas. (A situação no Vale do Silício é diferente, onde sobram zonas residenciais de casas com suas correspondentes garagens particulares).

Inclusive poderia ser mudado o hábito de ter um carro próprio, símbolo de poder da classe média desde meados do século XX. Iniciativas como Car2Go, (que pertence ao grupo Daimler) apostaram muito pelo aluguel de pequenos utilitários elétricos nas cidades.

Definitivamente trata-se de criar um entorno que permita aos motoristas circular sem medo de ficar sem bateria. O outro caminho é aumentar a autonomia, uma missão onde muitos estão fazendo sua parte, não só no setor automotivo: também a indústria eletrônica há muito busca um salto na duração da bateria. Mas a tecnologia de íon-lítio continua se resistindo às grandes evoluções.

Há muitos anos que se previam densidades energéticas de 300 Wh/Kg e ainda não foi alcançada esta cifra. A consultora Advanced Automotive Batteries, estimou que a densidade energética alcançada pelo Tesla era de 233 Wh/Kg. Sua giga fábrica de baterias, construída em sociedade com Panasonic, está destinada a aumentar a produção e baratear o preço deste componente, mas a melhoria da tecnologia de íon-lítio parece estagnada.

Também não podemos esquecer, que a chegada dos carros elétricos está sendo planejada unicamente no primeiro mundo. As vantagens a nível local, como a redução da contaminação e do barulho nas cidades ou diminuir a dependência do petróleo, não ultrapassam as fronteiras. Os preços dos veículos são muito altos (e a instalação de pontos de carga, muito cara) para que os fabricantes tenham interesse em expandir esta tendência a países com menos recursos.

Imagens: Tesla e xlibber

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