Francis Mojica, o cientista que descobriu as “tesouras moleculares” para editar o genoma

Por , 24 de February de 2016 a las 07:00
Francis Mojica, o cientista que descobriu as “tesouras moleculares” para editar o genoma
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Francis Mojica, o cientista que descobriu as “tesouras moleculares” para editar o genoma

Por , 24 de February de 2016 a las 07:00

CRISPR-Cas9 são as “tesouras moleculares” que nos ajudam a editar o genoma. A descoberta desta tecnologia revolucionária veio das mãos de um cientista espanhol, Dr. Francis Mojica.

A edição genômica foi escolhida pela revista Science como a descoberta científica mais importante de 2015. As “tesouras moleculares”, mais conhecidas como sistema CRISPR-Cas9, servem para “cortar” e “colar” o DNA de uma forma rápida, precisa e eficaz. A sua utilidade foi demonstrada no desenvolvimento de modelos animais para o estudo de doenças e até para frear as doenças raras em ratos como a distrofia muscular de Duchenne. O que talvez poucos sabem é que por trás dessa ferramenta para editar o genoma está um cientista espanhol.

Dr. Francis Mojica, um pesquisador da Universidade de Alicante, descobriu em 1993, umas sequências repetidas que chamou de CRISPR. O seu artigo, publicado em Molecular Microbiology, antecipou a descoberta do mecanismo de imunidade adaptativa em microorganismos. Como foi explicado pelo próprio Mojica, essa ferramenta “parecia ter aplicação no campo da biotecnologia.” 23 anos depois de sua descoberta, CRISPR-Cas9 provou ser uma ferramenta muito útil para a edição genômica.

O papel de Mojica foi reconhecido em janeiro pelo Dr. Eric Lander na revista Cell. O diretor do Instituto Broad do MIT escreveu um artigo sobre “os heróis da CRISPR”, em homenagem a todos os cientistas que trabalharam no desenvolvimento destas peculiares “tesouras moleculares”. Sua aplicação prática ficou conhecida em 2012, quando as pesquisadoras Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier, reconhecidas com o Prêmio Princesa de Astúrias da Pesquisa de 2015, determinaram que era possível editar o genoma com este sistema.

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Mojica admite estar muito feliz com o reconhecimento de Lander. Ele foi o primeiro a vislumbrar o potencial que tinha a CRISPR-Cas9. “O que surpreende é que o boom seja para edição genômica em terapia”, conta o cientista da Universidade de Alicante. “Nos preocupa o bem-estar, mas estas ferramentas também têm muitas aplicações em microbiologia“, diz para o blogthinkbig.com. Entre tais aplicações, Mojica fala sobre o desenvolvimento de microorganismos resistentes a vírus, que nos ajudariam a melhorar o desempenho na produção de alimentos como iogurte ou queijo.

“As bactérias são usadas como fábricas para a produção de antibióticos, hormônios de crescimento, interferons e insulina”, o pesquisador cita listando alguns processos biotecnológicos clássicos. Graças a CRISPR, poderíamos evitar que esses microorganismos de uso industrial fossem afetados por um ataque de um vírus. Mas a aplicação das “tesouras moleculares” de edição genômica atingem também as plantas, pois seríamos capazes de gerar “variedades resistentes a vírus” ou “cópias que possam crescer com altos níveis de salinidade”, explica ele.

A constatação de CRISPR realizado por este microbiologista espanhol está mudando a pesquisa. Tanto que, fora do Princesa de Astúrias, esta técnica chegou a soar como uma forte candidata para o Prêmio Nobel. Se conseguir o prêmio, a Academia Sueca reconheceria o trabalho deste pesquisador da Universidade de Alicante? Sem dúvida, os resultados da ciência básica estão mostrando grandes aplicações e utilidades anos após essa descoberta.

Imagens | Universidade da Califórnia (Berkeley), Alicante News

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