Como nosso cérebro toma decisões?

Por , 19 de February de 2016 a las 07:00
Como nosso cérebro toma decisões?
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Como nosso cérebro toma decisões?

Por , 19 de February de 2016 a las 07:00

Uma pesquisa, publicada na revista PNAS, traz luz a este clássico debate da ciência e da filosofia.

Responder “sim” ou “não”. Escolher “café puro” ou “com leite”. Escolher “mar” ou “montanha” para as férias de verão. São decisões que nosso cérebro toma todos os dias, de maneira instantânea ou premeditada, escolhas que podem condicionar atividades triviais ou nosso próprio futuro. Há muitos anos, os especialistas em neurociência tentam encontrar a zona onde são tomadas as decisões em nosso cérebro.

A pesquisa realizada até agora, conseguiu determinar que o córtex pré-frontal possui um papel muito importante na tomada de decisões. Esta região do cérebro e em particular, o lóbulo pré-frontal direito, trabalha no processamento de dados necessário para qualquer escolha. As conclusões dos especialistas chegam após anos estudando pacientes com lesões nestas zonas cerebrais, apesar de não serem as únicas regiões utilizadas na tomada de decisões. O hipocampo, relacionado com a memória, também é importante neste tipo de tarefas.

Além de conhecer que regiões do cérebro estão envolvidas nas escolhas pessoais, os cientistas e especialistas em bioética também trabalham para responder a uma questão. Somos totalmente livres ou estamos condicionados por nossa mente? Uma nova pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, avaliou o funcionamento do cérebro na tomada de decisões relacionadas com os movimentos.

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A pergunta que se formularam os cientistas da CharitéUniversitätsmedizin Berlin era determinar se somos capazes de parar um movimento voluntário depois que o cérebro começou a prepará-lo. Este processo caracteriza-se por um sinal, denominado potencial de prontidão (readiness potential, em inglês), depois do qual, a mente executa as ações necessárias para realizar o movimento voluntário.

Os investigadores quiseram conhecer se somos capazes de “evadir” esse processo de alguma forma. Para comprová-lo, criaram uma pesquisa onde os participantes “duelavam” com uma interface cérebro versus computador, que previa seus movimentos baseados na atividade detectada em um teste conhecido como eletroencefalograma (EEG). Seus resultados mostram que é possível “parar” um movimento depois de iniciado, apesar de que esse bloqueio deve acontecer antes de um momento conhecido pelos cientistas como “ponto sem retorno”.

As conclusões preliminares desta pesquisa trazem luz ao clássico debate sobre o determinismo e o livre arbítrio. Até o momento, de acordo com a instituição alemã, estes processos cerebrais “preparatórios” foram interpretados como uma mostra de determinismo, de maneira que o livre arbítrio não era mais que uma “mera ilusão”. O trabalho, porém, propõe uma perspectiva renovada a esta discussão. “O objetivo era averiguar, se a presença destas ‘ondas cerebrais precoces significa que a tomada de decisões é automática e não está sujeita a um controle consciente ou se a pessoa pode cancelar essa escolha”, sinaliza o professor Haynes. Ou seja, se os participantes podiam “parar” esse sinal e bloquear de alguma maneira uma decisão, haveria uma evidência de que o controle de nossas ações pode ser “retido” durante um tempo maior ao que se pensava até agora.

Esta é precisamente a conclusão da pesquisa, como aponta Haynes. “As decisões de uma pessoa não estão à mercê de tais ondas cerebrais precoces e inconscientes, mas que poderiam ter a capacidade de intervir de forma ativa e interromper seus movimentos”. Antes deste trabalho, tais sinais haviam sido utilizados como argumento contra o livre arbítrio, de modo que estes resultados preliminares dizem que a liberdade está muito menos limitada do que se pensava. Apesar de esclarecer um pouco melhor este clássico debate da ciência e da filosofia, os científicos também perceberam que havia um “ponto sem retorno” no processo da tomada de decisões, a partir do qual não seria possível vetar ou bloquear uma decisão. No futuro serão necessárias mais pesquisas para comprovar estas conclusões e avaliar o que acontece em processos mais complexos para a escolha de uma opção ou outra.

Imagens | Chempetitive (Wikimédia), Lance Shields (Flickr)

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