Carol Shaw: a primeira mulher game designer (I)

Por , 27 de September de 2016 a las 07:00
Carol Shaw: a primeira mulher game designer (I)
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Carol Shaw: a primeira mulher game designer (I)

Por , 27 de September de 2016 a las 07:00

Primeira parte de um post sobre Carol Shaw, a primeira mulher game designer da história

O primeiro dia que Carol Shaw entrou na sala de computadores do colégio se sentiu intimidada. Nessa sala de aula de Palo Alto (Califórnia), aquele dia no começo dos anos 70, havia somente garotos. Ela ainda não sabia, mas não tinha por que se sentir mal: alguns anos mais tarde seria a autora de um jogo de computador mítico, River Raid, e a primeira game designer da história.

Esse foi também o primeiro dia que Shaw usou um computador. O professor de matemática pediu que escrevessem um programa para fazer uns cálculos básicos. Para ela foi fácil, mas nem percebeu que atrás das teclas residia sua vocação. Talvez nunca a sentisse realmente e todos os jogos que fez depois tivessem mais a ver com sua inteligência do que com entusiasmo.

Shaw foi à universidade de Berkeley. Invencível em matemática, mas não tinha muita certeza do que queria estudar. Acabou se decidindo por engenharia eletrônica e ciências da computação. Em 1977 já era formada. Aprendeu um pouco sobre hardware e muito sobre software. E queria mais. Por isso, nesse mesmo ano, começou um mestrado em informática e, antes de finalizá-lo, foi chamada pela Atari.

A empresa pioneira em jogos arcade procurava desenvolvedores e programadores. Shaw foi à entrevista com a mesma curiosidade e expectativa que a causada pelo resto de empresas que a chamava. Nem mais, nem menos. Mas uma vez lá, ela gostou da ideia de criar jogos. “Tinha várias ofertas, mas a de Atari parecia mais divertida. Me pagavam por jogar” disse a californiana numa conversa com Vintage Computing and Gaming.

Shaw não era uma jogadora obsessiva, mas se virava no tema. Na Stanford Student Union tinha provado Spacewar!, o primeiro jogo interativo de computador. Depois, nos cursos de mingolf aos que ia, descobriu uma sala com jogos árcade. “O primeiro que tiveram foi Computer Space. Acho que saiu antes que Pong mas era muito complicado e não terminávamos de entender. Precisavam jogar duas pessoas: uma controlava a nave e outra disparava. Essa era a única forma de manejar todos os botões”, indicou para Benj Edwards, numa das poucas entrevistas que esta designer que sempre fugiu da popularidade concedeu ao longo de sua vida.

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A norte-americana tinha provado também um jogo de Radio Shack que conectou a seu televisor em preto e branco. Era parecido ao Pong e ela gostou. Da mesma forma que os engenheiros de Atari gostaram de seu currículo quando a conheceram em 1978 e decidiram chamá-la.

-Com quem você fez a entrevista em Atari?, perguntou Benj Edwards em sua entrevista para Vintage Computing and Gaming.

-Lembro que falei com Al Miller. Estava trabalhando em seu jogo Hangman para a Atari 2600 e testei.

Aquele dia, no escritório, falaram e jogaram. Pouco depois, Shaw já estava trabalhando com eles como “Microprocessor Software Engineer”. “Nunca tinha feito um videogame, mas me contrataram pela minha experiência em programação”, indicou a californiana. “Em Berkeley tinham um programa para que os estudantes trabalhassem seis meses numa empresa de tecnologia antes de se graduar. Eu fiz linguagem de programação para ESL e trabalhei em Amdahl e numa pequena startup chamada mupro. Tinha certa experiência e isso me ajudou a conseguir o posto”.

-Mencionaram alguma coisa sobre o pouco usual que era encontrar mulheres nessa indústria naquela época?

-Não quando me entrevistaram. Depois sim. Uma vez, quando estava trabalhando no laboratório, o presidente de Atari, Ray Kassar, veio de visita e disse “Oh, finalmente temos uma game designer. Ela pode se encarregar das combinações de cor e do decorativo”. Dois assuntos que não me interessavam nem um pouco…

-O comentário lhe incomodou?

-Depois o pessoal me disse: “Não preste atenção a ele. Faça o que quiser”. Não tinha nenhuma discriminação no referente aos outros designers nem nada pelo estilo.

-Tinha outras mulheres em Atari que não fossem game designers?

-Sum. Uma delas trabalhava em escritura técnica.

-Como você se sentia ao ser a única mulher no ramo?

-Não pensava muito nisso porque estava acostumada. Em minhas aulas de ciências da computação não havia muitas garotas ao redor.

-Você pensou naquele momento que poderia ser a primeira mulher do mundo que trabalhasse como game designer?

-Fo só mais tarde quando começaram a falar disso e nunca pude verificá-lo.

O jornalista lhe indicou que, de acordo com os documentos conhecidos, ela era a pioneira. “Até se pode afirmar que você é a primeira mulher game designer em vez de, digamos, de jogos para computador”.

Em 1978 Shaw começou a trabalhar no jogo Polo para o Atari 2600. Warner Communications era a dona de Atari e de Ralph Lauren. A marca de moda estava a ponto de lançar uma nova colônia chamada Polo e pensaram que podiam criar um jogo relacionado com o perfume.

Assim, no dia da apresentação no shopping Bloomingdale de Nova Iorque, poderiam levar videogames para que seus clientes jogassem polo. No fim das contas Atari não lançou o jogo. “A marca Polo de Ralph Lauren era popular, mas o esporte em si não era muito conhecido. Tivemos que esperar vários anos até que decidiram lançá-lo”, indicou a designer.

-Você foi contratada em Atari para ser especificamente game designer?

-Sim, game designer.

Edwards comentou então que nos anos 70 um designer também era o programador do videogame. Shaw lhe respondeu que naquela época uma única pessoa fazia todo o jogo: “o design, a programação, os gráficos e o som”. Depois, mostrava para seus colegas e eles ajudavam a melhorar o jogo.

-Como era o ambiente de trabalho na Atari?

No começo era divertido. Tinham uma sala de jogos de máquinas de moedas que se podia ir na hora do almoço.

Naquele tempo o “trabalhavelmente correto” não eram os escritórios abertos. Os trabalhadores trabalhavam em salas de duas pessoas. Aí tinham um terminal onde escreviam o código e, depois, iam a um laboratório situado no centro do edifício, para testar seus trabalhos em um computador Tandem.

-Quando você projetava um jogo em Atari, você fazia rascunhos no papel ou pensava e daí programava diretamente?

-Desenhávamos antes numa folha e depois fazíamos o código. Acho que escrevíamos o código num papel e depois passávamos ao computador. Era bem tedioso.

-Quantas horas por dia você trabalhava?

-Umas oito. Não lembro a que hora começava. Tínhamos um horário flexível. Mas sei que ia trabalhar em bicicleta. No inverno, voltava para casa quando já era de noite e por isso não queria ficar até muito tarde. Trabalhava as oito horas normais.

Naquela época Shaw morava com Ralph Merkle, seu futuro marido, em Mountain View (California). Conheceu ele dois anos antes numa Computer Science System Simulation de Berkeley, pouco antes de que ele fosse a Stanford trabalhar em criptografia.

-Quais foram os maiores desafios na hora de programar para o Atari 2600?

-Era uma máquina muito difícil de programar mas, ao mesmo tempo, isso a tornava muito flexível e se podiam fazer mais coisas do que se pensava.

Shaw desenvolveu mais dois jogos em Atari com apenas 128 bytes de RAM: 3D Tic-Tac-Toe e Video Checkers. Ambos foram ideia desta estado-unidense que, de pequena, ganhava concursos de cálculo e problemas matemáticos. Primeiro desenvolveu um jogo da velha e depois um de damas.

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