Podemos gerar eletricidade a partir da urina? Uma pesquisa projetou um dispositivo para levar iluminação para as regiões mais pobres.
A tecnologia não deixa de surpreender. E menos a que trata de aproveitar resíduos para reutilizar e produzir bens e serviços. O mais impressionante é que este tipo de avanços consiga “aproveitar” um fluido biológico como a urina. Mas um estudo realizado por cientistas da University of the West of England mostrou que é possível gerar eletricidade a partir do xixi. Sua instalação, localizada em urinários públicos do festival de Glastonbury, provou ser uma opção viável.
Não é a primeira vez que a inventiva chega a desenvolvimentos tecnológicos curiosos como este. No passado, no Think Big já contamos avanços como o tecido que produzia eletricidade a partir da radiação solar ou a capacidade de reutilizar os resíduos orgânicos de dois milhões de famílias norte-americanas com o mesmo objetivo. Desta vez, no entanto, surpreende que seja a urina a “matéria-prima” para gerar eletricidade.
Os primeiros resultados desta pesquisa foram publicados na revista Environmental Science: Water Research & Technology.Antes de testar o dispositivo nos urinários públicos do festival de Glastonbury, os cientistas analisaram o sucesso do sistema no campus universitário deFrenchay (Bristol, Reino Unido). Em ambos os casos, a energia gerada pelo protótipo foi aproveitada para iluminar o interior do urinário público, embora com um desempenho diferente. No campus, o dispositivo tinha 288 células, as células de combustível microbianas na qual o sistema se baseia, alcança uma média de 75 milivaltios. Por outro lado, o sistema do festival teve um maior número de células (432), produzindo 300 mW.
Como explicou a cientista espanhola Irene Merino, que trabalha no projeto com uma bolsa da Fundação Bill e Melinda Gates, a iniciativa é focada “a países em desenvolvimento, com intuito de melhorar ou incorporar instalações sanitárias, já que o sistema, além de produzir eletricidade, reduz a carência química de oxigênio (COD), ou seja, que também serve para tratar a urina”. Com a colaboração de organizações como a Oxfam, os pesquisadores pretendem agora testar os dispositivos para gerar eletricidade em regiões da África e da Índia.
Assim, a tecnologia pretende tornar-se novamente um aliado dos lugares mais pobres, a fim de iluminar áreas onde a eletricidade não está disponível. Assim também podem melhorar suas condições de saúde e segurança, mesmo no caso de mulheres e crianças que devem deixar suas casas para as necessidades básicas. O estudo será realizado em campos de refugiados, escolas ou comunidades que não tenham acesso à luz, a fim de determinar se o dispositivo funciona de forma eficaz nestas áreas.
Imagens | TIM (Wikimedia)